ESPORTES
05
MAIO
Aula 6
Horário: 19h30 - 22-30
Esporte e cultura
A aula iniciou-se com um questionamento sobre o que é esporte moderno, entendido posteriormente como uma prática corporal institucionalizada.
Após iniciada a reflexão a turma assistiu vídeos “disparadores” para a problematização: Buskashi e Calcio Fiorentino. O Buzkashi é muitas vezes comparado com o Pólo, no entanto o Pólo é disputado com uma bola, enquanto que o Buzkashi usa uma cabra morta. Já o Calcio Fiorentino é um dos possíveis ancestrais do futebol, os jogadores são personagens masculinos e por vezes esse e outros jogos eram usados como demonstração de força e virilidade. Com a Revolução Industrial e o avanço do processo de civilização essas práticas vão sendo deixadas de lado.
Na Grécia Antiga a maioria dos esportes acabava de forma violenta, no pancrácio, por exemplo, não havia nenhum limite de tempo e a luta terminava quando os participantes desmaiavam ou morriam. “Além disso, muitas práticas esportivas serviam de preparação para a guerra, algo muito corriqueiro para uma sociedade que se constituiu em uma espécie de império marítimo” (MELANI. 2010, P.9)
“ A desportivização dos jogos e dos passatempos é uma característica da modernidade, juntamente com o processo de industrialização. A esportivização e a industrialização respondem a uma profunda mudança que ocorreu primeiramente na Inglaterra e, posteriormente se disseminou pelo mundo.
Novas formas de organização e de controle sociais foram gestadas no período próximo, antecessor e posterior às revoluções burguesas, dando lugar a um novo estilo de vida e a certa padronização dos costumes” (MELANI, 2010, P.10)
A transformação dos jogos populares em esporte, acontecia nas Public Schools inglesas. Como uma forma de impedir o vandalismo dos alunos, Thomas Arnold iniciou uma reforma educacional no colégio de Rugby, e o esporte passou a ser então componente curricular.
As camadas populares também vão se interessando por essas práticas, o estado então começa a regular o esporte com o intuito de obter capital. As indústrias começam a criar seus próprios times, competições entre cidades e regiões na qual o torcedor vai criando uma identidade com o time. Assim, o esporte acaba tornando-se uma forma de regulação.
Muitas práticas esportivas começaram como brincadeiras e depois foram se esportivizando. Além disso para a nova sociedade a prática esportiva exigia regras claras “Na Inglaterra, seguindo a tendência de organização e controle do conjunto da sociedade, generalizou-se a introdução de regras que limitavam os danos físicos” (MELANI. 2010, p11)
O esporte também vem perdendo cada vez mais seu caráter lúdico e vem se configurando em atividades de mercadoria, transformando-se em um espetáculo, no qual o prazer é o de vencer.
“O importante aqui, de qualquer forma, é que parte da legitimidade social do esporte se deve ao fato de ele atualizar valores/normas de comportamento e princípios importantes para a nova ordem social. [...] Para isso o esporte fez seu o discurso médico e pedagógico (pedagógico também no sentido moralista). A atenção (legitimada) do Estado foi obtida, num primeiro momento, através desse discurso.”(PRONI, LUCENA, 2002, p.195)
Além disso, outro ponto importante discutido na aula foi que o esporte seduz de tal forma que as pessoas criam uma identidade com um clube, time e atleta e de que há um discurso que evidencia sempre o lado positivo do esporte. A sociedade foi induzida a acreditar no esporte como uma prática capaz de fornecer um prazer único, prazer alcançado somente no esporte. “ Essa cultura tenta desenhar e impor um prazer único: o prazer de ser esportivo. Assim, o espírito esportivo invade a vida civil e a lógica do esporte é universalizada:gestos, regras, consumo de produtos, de lugares e, mesmo de uma arquitetura, como nós mostramos aqui brevemente” (BRANDÃO, SOARES, 2012 p.17). Para que essa identificação aconteça a mídia é uma grande aliada nesse processo. Faz com que criemos uma familiaridade com os esportistas tornando o atleta um ídolo.
No entanto, esporte-espetáculo faz com que o atleta profissional seja condicionado que nem o trabalhador fabril. Impõe-se ao atleta “uma série de ações e comportamentos, visando a obtenção da maior produtividade possível, o que significa maior ritmo de produção e de fabricação de mercadorias” (MELANI, 2010, p. 16). Para o atleta atingir o nível de profissionalização do esporte, ele precisa ser disciplinado a fim de alcançar um alto desempenho esportivo, isso acaba tornando o atleta alienado.
Não se pode esquecer também que muitas vezes pensamos que o esporte é democrático, no entanto ele está vinculado às classes sociais, de modo que, há esportes considerados de classes populares e outros da burguesia. Também está muito marcado pela questão de gênero, na qual a masculinidade é muito evidenciada.
Para que uma pessoa participe de uma competição é necessário que ela seja federada por uma entidade privada. Essas entidades privadas trazem benefício ao Estado e por sua vez, o Estado colabora com a segurança e o local em que vai acontecer os eventos esportivos. As superpotências, por exemplo, no período da Guerra Fria utilizavam o esporte e as Olimpíadas como forma de marcar a superioridade política.
Na contra mão da hegemonia do esporte como modelo de organização de todas as práticas corporais contemporâneas, o Skate “ faz parte parte de um universo de práticas que ‘[...] desde os anos 1970-1980 desenvolveram-se à margem dos esportes tradicionais. Inúmeras (práticas corporais) dentre elas reivindicam uma contracultura, um pertencimento específico, esta resistência em direção às instituições[...]’” (SOARES, BRANDÃO, p.20 apud VIGARELLO, 2006, p.189). Essa prática resiste ao movimento desportivo institucionalizado.
Assim, para que o componente lúdico seja devolvido ao esporte faz-se necessário que aja um estímulo para uma atitude crítica no ambiente escolar, de modo que os alunos tragam informações prévias sobre o patrimônio cultural esportivo, outro aspecto importante é os posicionamentos a respeito do esporte sejam valorizados e que se estimule a construção coletiva das vivências, e nessas vivências é interessante discutir o comportamento dos alunos. Outro ponto importante é saber o que cada aluno entende sobre o esporte que será vivenciado e porquê pensa daquela maneira.
Referências Bibliográficas:
BRACHT, V. Esporte, história e cultura. In: PRONI, M. W.; LUCENA, R F. Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 191-205.
BRANDÃO, L; SOARES, C. L. Voga esportiva e artimanhas do corpo. Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 03, p. 11-26, jul/set. 2012.
MELANI, R. O significado do esporte. Revista PUC Viva, São Paulo, v. 11, n. 38, p. 7-20, mai/ago. 2010.
VELÁZQUEZ BUENDÍA, R. El deporte moderno. Consideraciones acerca de su génesis y de la evolución de su significado y funciones sociales. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires. Año 7, n. 36, p. 1-4, maio, 2001.
NEIRA, M. G. “Os esportes na escola”; “Orientações Didáticas” e Relato de Experiência. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 139-155.
12
MAIO
Aula 7
Horário: 19h30 - 22-30
No dia 12 de maio tivemos nossa vivência de Esporte e cultura, que ocorreu no ginásio da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE-USP). A aula iniciou-se com uma roda, em que o professor nos contou que iríamos jogar handebol. Nesta primeira parte, uma aluna da sala ofereceu-se para explicar sucintamente as regras do jogo. Em seguida, o professor informou que iria dividir os alunos em quatro grupos, de acordo com critérios diversos. E assim o fez: time com roupa escura, time com camiseta de manga curta, time com pessoas vestindo roupa cinza, time com pessoas vestindo roupa colorida.
Acrescentou que, a cada vez, dois times iriam jogar contra si e, quando o professor dissesse "TROCA!", os outros dois times entrariam na quadra. Tal procedimento ocorreu por duas vezes. O professor reuniu os alunos em roda novamente e sugeriu que as equipes acrescentassem um elemento no esquema: a barreira. Essa seria uma forma de melhorar a defesa das equipes. Novamente em círculo, o professor pediu que os times pensassem em uma tática que aperfeiçoasse seus ataques. Acrescentou, ainda, uma nova regra: cada vez que a bola saísse da quadra, um novo time entraria no lugar. Dessa forma, a atenção dos jogadores voltou-se, não só para o objetivo de fazer gol, mas também para a eventual saída da bola da quadra e entrada do novo time.
Findada a atividade, o grupo sentou-se em círculo para fazer a avaliação da vivência. Várias foram as ponderações e reflexões realizadas pelo grupo, dentre elas:
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a partir das mudanças que foram ocorrendo durante a aula, o jogo foi ficando mais dinâmico;
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no final, todos acabaram participando da atividade;
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o processo de acrescentar novas táticas paulatinamente e de intercalar momento de jogo e de conversa constituiu-se em uma forma mais dinâmica e significativa de se aprender as regras;
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a forma de separação dos times evitou a discriminação dos alunos conforme suas capacidades, habilidades e forma física;
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a tática de um dos times saírem quando a bola saía da quadra deslocou a questão relativa a quem faz mais ponto para a atenção no deslocamento das equipes;
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alterou-se, também, o aspecto temporal, uma vez que o jogo não acabaria dado um certo tempo, mas de acordo com a saída da bola da quadra;
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o professor abordou a questão de que o educador tem que criar mecanismos para que o jogo aconteça, e abriu a seguinte questão: "e se ninguém quisesse ser goleiro?";
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também chamou a atenção para a necessidade de se problematizar o "ganhar e o perder". Se um time está perdendo, o que fazer? Pode-se mudar alguém de posição; treinar outras estratégias?
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há, também, que se discutir com o grupo questões que estejam acontecendo; o que fazer para melhorar. Por exemplo, se os meninos estão passando a bola apenas para os meninos, o que fazer para mudar?
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sugeriu-se, ainda, que só se acate uma solução quando todos estiverem de acordo. Dessa forma, as crianças se sentirão responsáveis pela decisão, tornando-se mais engajadas;
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discutimos sobre o aprofundamento de táticas de movimentação da equipe através de vídeos, pesquisas, tutoriais. Também é possível inventar novas táticas e colocá-las no papel com os alunos;
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há ideias que não dão certo. Como lidar com isso?;
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só jogar e ir para a sala de aula não constitui trabalho pedagógico;
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se há centenas de esportes, por que somos apresentados a apenas uma dezenas deles? Quem define o que vai ser praticado nas escolas?;
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há que se ter uma boa vontade política para se desenvolver o esporte e a cultura nas escolas;
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deve-se ensinar esporte discutindo sua cultura, de onde vem, quais os costumes, etc..;
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há que se buscar a significação do esporte, isto é, como as pessoas o significam. Pode-se citar como exemplo o skate, que alguns encaram como um esporte, outros consideram uma simples prática esportiva;
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esporte consiste em uma prática corporal institucionalizada. No Brasil, a queimada não é um esporte;
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há um grande interesse em tornar uma prática esportiva em esporte, uma vez que este gera verba pública.
Com a vivência foi possível entender melhor como devemos agir ao ensinar algum esporte nas escolas, lembrando que
“Ao compreender a escola como um espaço em que se produzem, reconstroem e analisam significados é desejável que as crianças vivenciem as modalidades esportivas presentes no universo cultural próximo e afastado. Também é fundamental refletir criticamente acerca das representações vinculadas sobre elas, bem sobre os seus praticantes. A intenção é oferecer a cada criança a oportunidade de travar contato com as diversas identidades que coabitam a sociedade” (NEIRA, 2014, p. 140)
É importante também que as atividades sempre envolvam diálogo sobre os significados que se aprendeu durante a vivência de cada esporte, como aconteceu na vivência sobre o handebol.De modo que “As crianças devem ser posicionadas para que alcancem uma compreensão melhor dos seus significados”(NEIRA, 2014, p. 142)
Referência bibliográfica
NEIRA, M. G. “Os esportes na escola”; “Orientações Didáticas” e Relato de Experiência. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 139-155.